sexta-feira, 29 de abril de 2011
Deportação stalinista de 1944
A verdadeira história da deportação é desconhecida pela maioria da população da Rússia e associada a vários mitos e rumores sobre a colaboração dos povos deportados com o exército nazista.
Com o fim do império russo, em 1917, no Cáucaso Setentrional foi formada a Republica Montanhense, que, seguindo as declarações do governo bolchevique sobre a autodeterminação nacional, proclamou sua independência. Inicialmente, os bolcheviques, preocupados com a manutenção de seu poder, apoiaram a independência do Cáucaso, mas, a partir de 1924, quando a URSS foi formada e surgiu a necessidade de delimitar as fronteiras do país almejando a preservação do território conquistado outrora pelo império russo, surgiu o conflito que se tornara permanente. Este conflito que levou a vários levantes armados contra as forças do exército vermelho e da KGB enviadas para a região1 se acentuou com a implantação de processos de coletivização e de industrialização na região.
Os levantes da população contra o governo soviético continuaram após o começo da Segunda Guerra Mundial e foram apresentados à população da URSS como a colaboração com o exército nazista. Esta versão foi aceita, desde que a resistência armada existente na região a partir de 1917, em prol da independência e contra a coletivização, fora abafada e desconhecida pela maioria de cidadãos soviéticos.
Em 1944, por ordem de Stalin, acusados de traição, foram deportados: chechenos, inguches, karatchai, kalmyks, balkary e tártaros da Crimeia. Oficialmente, foram deportados 500.000 chechenos e inguches.
Em 23 fevereiro de 1944, os chechenos e os inguches foram, à força, colocados nos trens e levados para o Cazaquistão e para a Ásia Central; a República Chechênia-Inguchétia foi apagada do mapa da URSS4. Aqueles que resistiram foram executados.
A história da deportação durante muitos anos permaneceu desconhecida devido à censura vigente na URSS. As publicações posteriores ao fim da URSS revelam que, por exemplo, na vila Khaibakh, na Chechênia, todos os moradores, 200 pessoas (ou entre 600 e 700 segundo outros depoimentos), foram queimados dentro de um estábulo. Quem tentou fugir foi fuzilado. Também foram fuzilados os moradores das vilas vizinhas. Quase metade de deportados faleceu durante a transportação nos trens, devido às condições desumanas, a ausência de alimentação e de água, e ao frio.
Um pequeno número de pessoas conseguiu fugir para as montanhas antes de forem levados aos trens e, formando uma guerrilha, durante décadas lutou contra os representantes do poder central.
Moradores de outras regiões da URSS foram levados para as terras que outrora foram habitadas pelas populações deportadas: processo que gerou inúmeros conflitos descritos, por exemplo, no livro do escritor Anatóliy Pristávkin "Adormecia uma nuvem dourada".
Os povos deportados começaram a recuperar seus direitos após a morte de Stalin, em 1954, quando foi restituída a República Chechênia-Inguchétia e foi permitido o retorno de deportados para seus antigos locais de moradia. No entanto, o retorno para a terra natal e a reabilitação das comunidades encontraram diversos obstáculos, como uma economia local desestruturada, desemprego crônico e um território ocupado por moradores provindos de outras regiões. República Chechênia-Inguchétia, dentro da URSS, apresentava os maiores índices de desemprego e menores índices de educação, para citar alguns dos problemas.
Como surge "Chechênia" - Colonização do Cáucaso pelo império russo no séc. XIX
Os chechenos e os inguches se autodenominam vainakhi, o que significa “nosso povo”, ou nokhtchi.
A colonização do Cáucaso pelo império russo, foi e continua sendo nomeada em manuais de história da Rússia de “pacificação” de populações bárbaras. Um breve histórico desta “pacificação” fala por si só.
Não há números exatos de mortos durante a guerra colonial no Cáucaso (1816-1864), mas levando em consideração as práticas usadas pelos generais do exército imperial, supõe-se que os habitantes da região do Cáucaso setentrional foram dizimados. Estas práticas incluíam a queima de aldeamentos inteiros, juntamente com seus moradores, a queima de colheitas, sujeitando a população à fome, e o desmatamento de grandes áreas usadas para a caça e para a preparação de estoques de lenha para os invernos rigorosos.
Este primeiro genocídio foi denunciado amplamente pelos sobreviventes das populações exterminadas, que fugiram para a Turquia ou outros países, e também por algumas figuras importantes da Rússia, como o escritor Liev Tolstoi.
Uma das conseqüências mais notórias do processo colonizatório foi a destruição de uma estrutura social existente entre os vainakhi, que se distinguiam de outros habitantes da região pela forma de organização social, onde, não possuindo nem Estado, nem governo central, as decisões sobre todas as questões importantes para a comunidade de moradores eram tomadas coletivamente, e o órgão mais respeitado nestas decisões era representado pelo conselho de anciões. Outra característica importante era a propriedade coletiva sobre a terra, os bosques e as águas. Cada vila ou aldeia, que geralmente agregava uma grande família, formava seu conselho; o conjunto de conselhos formava, por sua vez, um conselho maior, e somente no caso de uma guerra, escolhia-se um líder (como aconteceu durante a resistência à colonização no século XIX).
Como conseqüência da colonização, uma forma de organização social (a gestão das comunidades por meio de conselhos) começou a ser substituída por outra (chariá islâmica), ou seja, um modo de vida existente durante vários séculos foi rapidamente destruído e substituído por um outro, que trouxe consigo a estratificação social, a urbanização e o surgimento da noção de etnicidade, levando mais tarde à formação de um Estado-nação. Diferentemente de outros povos do Cáucaso que foram exterminados durante a colonização, chechenos sobreviveram e resistiram ao exército imperial bravamente, entrando, a partir daquele momento, no imaginário da população da Rússia como “inimigos ferozes” e “montanheses indomáveis”. Esta imagem fora propagada através de ampla produção artística sobre o assunto no século XIX. Os livros escritos pelos historiadores na Rússia apresentavam o processo de colonização como uma guerra justa e como um processo civilizatório de populações bárbaras, carentes de cultura, de higiene, de racionalidade, etc.: reafirmando um discurso comum a todas as potências colonizadoras e, ao mesmo tempo, formando a percepção negativa e deficiente dos povos colonizados.
Com o extermínio de grande parcela da população, longo período de enfrentamento armado e consequente desestruturação social, e, também, devido a onda migratória de populações do Cáucaso setentrional para o império otomano, a religiosidade anímica e o direito adat (forma de solução de conflitos operante entre os vainakhi, embasada em princípios pré-definidos pelos anciões) foram gradualmente substituídos pelo direito islâmico (chariá) e grande parte de habitantes daquela região se tornou muçulmana. Dentre várias orientações filosóficas e políticas existentes no islamismo a preferência, inicialmente, foi dada ao sufismo e ao.
O Cáucaso Setentrional passou a ser dividido em unidades administrativas dentro do império russo associadas à “nacionalidade” ou à “etnia” de seus moradores. Surgem, assim, a partir do século XIX, os chechenos, os inguches, os karatchai, os balkary, os tcherkessy e os kabarda, identidades, hoje em dia, reivindicadas pelos próprios moradores da região e relacionadas às exigências de independência política.
terça-feira, 26 de abril de 2011
Relembrando Beslan
Carta aberta de moradores de Beslan aos cidadãos da Rússia.
Em 1 de setembro de 2004, nós, moradores de Beslan, levamos nossos filhos, nossas esposas, nossos esposos, nossos irmãos e irmãs, todos felizes e saudáveis, à escola. Lá, os desumanos bípedes os torturaram durante três dias, depois os despedaçaram e os queimaram. Passaram oito meses desde o dia de morte de 332 pessoas inocentes. Entre os mortos – 185 crianças. Isto se tornou o drama nacional da pequena Ossétia.
Nós, cidadãos da Rússia, não conseguimos entender a quem nossas crianças mortas e aleijadas devem agradecer por esta “infância feliz”: a Gorbatchiov, a Ieltsin, a Putin ou ao sábio governo republicano? Não há culpados! Nos convencem esperar pelos resultados da investigação da comissão parlamentar, mas as datas da divulgação destes resultados mudam a cada dia. No entanto, julgando pelos resultados preliminares, publicados na mídia, já percebemos que esta comissão também é um artifício do poder: ela nunca nomeara outros culpados pelo crime, além dos terroristas.
E as questões ao governo federal e ao republicano são muitas. Mas é inútil fazê-las, pois a mentira se tornou banal em nosso país. Mentira sobre a quantidade de reféns(1) e mentira sobre a ausência de exigências de terroristas (2). Porque eles todos não responderem uma pergunta: quantos terroristas morreram em decorrência de uso de lança-chamas Chmel e quantos reféns feridos morreram queimados, sem conseguir sair da escola após as explosões? E então poderemos perguntar: contra quem foram usadas as lança-chamas Chmel, o armamento pesado, os tanques e, em geral, - PARA QUE?(3)
Mas a pergunta principal é sobre as explosões na escola. Porque, por causa de quem, pela ordem de quem, por qual causa aconteceram as primeiras duas explosões dentro do prédio que provocaram a operação militar de resgate e que levaram a vida de tantos reféns.
Não nos deixam dormir tranquilos as declarações de infanticida terrorista N.Kulaev (4) e do presidente da Ossétia do Norte Dzasokhov. Kulaev foi testemunha da última conversa do líder dos terroristas pelo celular: “Fora de si de raiva, ele berrou Não fiz nada. O atirador da elite de vocês matou meu homem que estava no botão5. Depois, ele atirou o celular no chão e o quebrou”. Não pensamos que se o próprio terrorista tivesse feito a explosão, ele estaria negando isto. Ele devia ter compreendido que agora irão todos para o “paraíso maldito” deles.
Os reféns que estavam na escola também perceberam que a explosão foi uma surpresa para os terroristas. No mesmo momento, uma parte de terroristas estava no refeitório se preparando para o almoço, e, justamente neste momento, os cadáveres de reféns assassinados anteriormente estavam sendo recolhidos na rua.
Em seu depoimento, o presidente da Ossétia do Norte, Dzasokhov, declarou que, em 3 de setembro de 2004, ele conseguiu um acordo com Maskhadov (presidente da Chechênia naquela época), de que dentro de duas horas um corredor estaria aberto para que Maskhadov pudesse vir a Beslan e participar das negociações com os terroristas. Mesmo fato foi declarado perante o povo de Beslan na manhã daquele dia. Ele havia dito que figuras novas entraram no processo de negociações e que tudo seria feito para a libertação dos reféns e que não haverá operação militar de resgate. Mas, passada um hora após esta promessa ao povo de Beslan, aconteceram as duas explosões e começou a assim chamada “operação militar forçada”.
Quem interrompeu as negociações que haviam começado entre Maskhadov e os terroristas? Quem se deu o direito de “detonar”(6) os terroristas na escola junto com as crianças? Quem se deu o direito de tirar a vida de tantas pessoas?
Quaisquer que seja seu cargo e quaisquer que sejam as ideias com as quais ele se cobre, esta pessoa é criminosa.
Quem saiu ganhando após o terror acontecido em nossa casa?
Quem foi deixado em paz, em relação à guerra na Chechênia, pela comunidade internacional entorpecida com o terror sucedido em Beslan?
Nenhuma comissão parlamentar nomeará os culpados pelas explosões na escola, pelo menos durante a vigência do governo atual. Principalmente, porque o chefe da comissão Torchin afirmou mais de uma vez em entrevistas que não é o objetivo da comissão procurar pelos culpados. Então, a comissão parlamentar também é um artifício do poder.
A verdade, provavelmente, nunca será conhecida, pois é o segredo do Estado da Rússia para o resto da história. Esta verdade sobre o resgate de pessoas nenhum povo nunca compreenderá, independentemente do regime político.
Mas nós começamos a compreender a aterrorizante e impensável verdade sobre a morte de nossos parentes. Nos abriram os olhos sobre a vida em nosso país, onde nossas crianças tiveram a “sorte” de viver.
O que faremos agora? Como viveremos?
Devido ao exposto acima, pensamos que seja provável a versão sobre o assassinato premeditado do terrorista que vigiava o botão dos explosivos para provocar as explosões (segundo os relatos de alguns reféns, o terrorista que cuidava do botão caiu para o lado, após o que sucedeu a explosão).
Aqueles que fizeram isto, compreendiam perfeitamente que, em decorrência das explosões, as vítimas serão muitas, mas a operação militar poderá ser nomeada de “forçada” e “espontânea”. Esta mentira irá se tornar um álibi para as pessoas que tomaram a decisão sobre a operação militar, cujo objetivo principal foi o extermínio de terroristas, ao invés da libertação de reféns. Não conseguimos entender, quem tinha o direito de tomar a decisão sobre a operação militar e tirar a vida de tantas pessoas.
Judicialmente, existe a categoria de uma “necessidade extrema”, quando uma ação é empreendida para evitar os danos maiores. Na mídia nos dizem, desde o início da tragedia, que se o governo federal iniciasse as negociações com os terroristas, a Rússia inteira iria se desfazer. Ou seja, para o poder surgiu a tal “necessidade extrema” da operação militar que levou a vida de 332 reféns, para que os danos maiores, o despedaçamento da Rússia, pudessem ser evitados
Mas, talvez, uma terceira opção, excluindo o assassinato das crianças ou o despedaçamento da Rússia, pudesse existir? Se, por exemplo, tentassem usar a sabedoria, a inteligência, ou, pelo menos, a esperteza? E no mais, pensando no valor da vida humana e no fato de que a vida só nos é dada uma única vez, talvez valesse a pena considerar as peculiaridades de cada ato terrorista: a quantidade de reféns, a possibilidade de negociações para não permitir a morte de centenas de pessoas inocentes, de famílias inteiras.
Como isto foi permitido, a razão não consegue compreender. Em qual outro país isto seria possível? É fácil manter os princípios e ser corajoso estando longe da gente, na capital da Rússia, pagando com as vidas de nossos filhos.
Também não excluímos as acusações contra o governo republicano que ironicamente responde nossas perguntas: “Agora todos sabem como deveríamos proceder!”
Sim, mas aqueles que almejam ser presidentes do país ou da república, devem se distinguir da massa pela rapidez de pensamento, pela faculdade de cometer atos extraordinários.
E se vocês têm o mesmo intelecto ordinário, comum a maioria de pessoas, não deveriam supervalorizar sua importância e ocupar os postos privilegiados. Pois as pessoas contam com vocês, esperam que vocês façam algo. Como, por exemplo, as crianças na escola esperavam que vocês iriam salvá-las, rezavam por sua ajuda. Mas elas tiveram que ficar no meio da operação militar – chacina. As crianças não conseguiram entender, porque os adultos as estão matando.
Diferentemente daqueles cidadãos da Rússia, cujas famílias ainda não foram tocadas pela tragedia, nós não entendemos como é possível, em tempos de paz, dentro de uma escola estatal, matar tantas pessoas inocentes? Nos explicam que é preciso manter a integridade da Rússia. E não importa qual é o preço, não importa quantas pessoas queridas morreram – a família inteira, a metade da família, ou uma única criança: nós não podemos fazer perguntas, pois as fazendo nos tornamos cúmplices de terroristas.
Afinal, que perguntas nós, os ingratos, podemos fazer? Em nossa cidade duas enormes escolas estão sendo construídas pelo governo, escolas incomparáveis por sua beleza até com as escolas de Moscou. E não lhes importa que não há mais em Beslan tantas crianças que pudessem preencher estas escolas.
10 de maio de 2005
Notas:
(1): Mídia da Rússia divulgava informações errôneas sobre a quantidade de reféns na escola, a diminuindo. Durante a operação militar, em 3 de setembro, quando ocorreu a maioria das mortes, o principal canal da TV russa passava a novela brasileira Laços de família. Os canais internacionais passavam ao vivo as imagens de Beslan.
(2): Terroristas entregaram a carta com as exigências, a principal das quais foi sobre a retirada das tropas do exército da FR da Chechênia. Estas exigências não foram divulgadas.
(3): A maioria de reféns morreu ou foi ferida em decorrência do incêndio que tomou o prédio da escola após as explosões. Durante a operação militar, em 3 de setembro, foi usado, pela Rússia, o armamento pesado que disparava contra o prédio.
(4):Único preso e processado pela tragedia de Beslan.
(5): Um dos terroristas ficava em vigia permanente do botão que ligava todos os explosivos depositados no prédio da escola.
(6): Alusão a uma frase de Pútin pronunciada após as explosões de prédios residenciais, em 1999.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Refugiad@s chechen@s pres@s no aeroporto da França
No final de dezembro de 2007 um grande grupo de refugiad@s chechen@s chegou no aeroporto Roissy (França) procurando pelo asilo. Segundo uma organização de direitos humanos ANAFE as pessoas estão sendo tratadas com brutalidade e total desrespeito. El@s são proibid@s de deixarem a área de transição, dormem nos bancos de metal, o acesso aos telefones é muito restrito e não há assistência médica, nem serviço de tradução. As mulheres e as crianças foram transferidas para os espaços com as camas, mas a comunicação entre os membros de famílias foi interrompida. Assim, as pessoas que procuram refúgio não conseguem expressar as causas de sua vinda para a França.
No começo de janeiro de 2008 as solicitaçôes de exílio foram negadas, em sua maioria. Agora estas pessoas correm risco de serem deportadas pelo governo francês.
http://hns-info.net/article.php3?id_article=13057
http://www.millebabords.org/spip.php?article7474
Propomos pressionar os governos da U.E. para que não haja deportação!
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Campanha de solidariedade com Irina Kodzaeva
Em 17 de Outubro deste ano, o Tribunal da Federação Russa iniciou o processo criminal contra nossa colega, a advogada Irina Kodzaeva (que trabalha em Vladikavkaz, República do Daguestão).
Esta decisão foi antecedida dos seguintes acontecimentos.
Irina Kodzaeva trabalha na região de conflito entre a Rússia e a Tchetchénia, onde o sistema judicial legitima a produção de falsas acusações e funciona na base de torturas e corrupção.
Em 27 de Agosto um de seus clientes Nazir Muzhakhoev foi levado para interrogatório.
Kodzaeva dirigiu-se para a sala de interrogatório. Quando ela estava passando ao longo do corredor, um dos investigadores viu-a e trancou a porta onde Muzhakhoev estava sendo interrogado. A advogada ficou muito preocupada, pois muitos de seus clientes já foram torturados para assinar depoimentos falsos.
Anteriormente, Nazir Muzhakhoev havia comunicado a Irina que durante o último mês e meio tinha sido ameaçado várias vezes para confessar um crime que não cometera. Também exigiam dele recusar os serviços da advogada.
Muzhakhoev é o quarto cliente de Irina Kodzaeva que através de mentiras, chantagens e violência física estava sendo forçado a recusar seus serviços.
Cumprindo seu dever, a advogada Kodzaeva exigia entrar na sala de interrogatório para verificar que ele não estava sendo torturado. Ao perceber que seu pedido não estava sendo atendido, Kodzaeva tentou entrar na sala junto com um dos investigadores que acabara de chegar. Ela foi barrada na porta por um investigador da Procuradoria-geral da Federação Russa de nome Viktor Pereverzev. Primeiro, ele empurrou a advogada e depois bateu-lhe na cabeça com a palma da mão. A pancada desequilibrou Irina fazendo-a bater com boca na esquina da porta.
Irina foi para hospital e denunciou o acontecimento ao Ministério do Interior. Passado um mês, foi informada que sua denúncia tinha sido recusada e que o Ministério não iria abrir um processo.
Ao mesmo tempo informaram-na que o investigador Pereverzev tinha sido transferido para trabalhar numa outra cidade e que apresentara uma denúncia acusando Irina de espancamento.
Segundo as leis da Rússia, para abrir processo contra um advogado é necessária a decisão judicial de um Tribunal. Em 7 de Outubro o Tribunal de Vladikavkaz decidiu permitir a abertura de processo contra a advogada Irina Kodzaeva.
Todos nós, @s advogad@s que trabalham na Tchetchénia, na Inguchétia, no Daguestão e em todo o Cáucaso Setentrional, já vimos nossos clientes após as torturas, as humilhações físicas e psicológicas. Cada um@ de nós sabe quais são as hipóteses de defender a inocência dos nossos clientes. E como nos sentimos impotentes, quando os veredictos dos nossos tribunais sobre casos fabricados por investigadores como Preverzev e seus similares, é “CULPADO”!
Por causa de nosso silêncio os casos fabricados, as torturas, a cumplicidade entre os órgãos de investigação e de justiça se disseminam-se por toda a Rússia.
Hoje em dia, o espancamento da advogada Irina Kodzaeva e a abertura de um processo contra ela tiram-nos a última esperança de defesa perante a arbitrariedade.
A advogada Irina Kodzoeva é uma das poucas que defende os indesejáveis. È uma das poucas para quem não importa a nacionalidade. É uma das poucas que respeita a lei.
Peço a tod@s colegas advogad@s e a todas as pessoas a solidariedade e o apoio a Irina Kodzaeva. Neste momento ela precisa de apoio.
Levantem a vossa voz em defesa da advogada. Exijam o fim da perseguição a Irina Kodzoeva.
Escrevam para a Procuradoria-geral da Rússia.
Assina: Lida Iussúpova, advogada, candidata ao prémio Nobel da Paz de 2006 e 2007.
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Grande protesto popular na Inguchétia: os irmãos Aushev que foram seqüestrados pela FSB retornaram para casa após um ato de desobediência civil
No dia seguinte, 19 de setembro, às 3 horas da tarde, um grupo de pessoas (cerca de 450) saiu em protesto para as ruas de Nazran, e fechou a rua Chechenskaya, uma das passagens principais da cidade e a estrada de ferro. Entre os protestantes estavam os residentes de Surkhakhi, os parentes dos homens seqüestrados, e outros moradores de Inguchétia. Eles carregavam faixas que diziam: “Parem de matar pessoas inocentes!”, “Deixem nossas crianças em paz!”, “Tragam nossos filhos de volta!”. Umas dezenas de mulheres foram equipadas com varas.
Quando o ministro de assuntos internos M. Medov chegou com suas seguranças, um dos seguranças tentou agarrar a câmera video de um dos protestantes. As mulheres atacaram o segurança e avançaram acima do ministro e dos policias em torno dele, forçando-os a se retirarem rapidamente. Ao mesmo tempo os protestantes fecharam a estrada de ferro com os blocos de concreto. Este movimento incapacitou o tráfego do transporte ao longo da estrada principal do automóvel de Nazran e a estrada de ferro. A estrada de ferro foi fechada também por dúzias de carros e de minibuses “Gazel” com os residentes da vila Surkhakhi.
Os protestantes foram visitados mais tarde pelo procurador da república Yu.N. Turygin e de membros do parlamento republicano. Os protestantes estavam muito decididos dizendo que não sairiam até que devolvessem os primos Aushev. Trouxeram com eles cantis com água e as esteiras de reza, preparando-se para permanecer durante a noite. Em suas entrevistas aos jornalistas e às organizações de defesa de direitos humanos, os protestantes disseram que eram fartos das ações dos serviços de segurança, que sequestram homens jovens, os torturam e os executam. Criticaram fortemente as autoridades e o presidente Zyazikov, afirmando que não fizeram nada a fim de parar estes crimes.
As exigências dos protestantes: o retorno dos primos Aushev e de outras pessoas seqüestradas, e a punição dos culpados por estes crimes. Estas exigências foram transmitidas pela TV local.Ás 6 da tarde chegaram três carros militares e a polícia, muitos deles com os rostos cobertos com máscaras, e tentaram dispersar a manifestação. Entretanto, os protestantes responderam com as pedras. Os recrutas da segurança abriram fogo acima das cabeças dos manifestantes, que não se assustaram: foram adiante e empurraram os policiais para trás de seus veículos. Logo as pedras bateram nos carros militares, então um deles em uma velocidade grande foi em direção à multidão. Os protestantes deixaram-no atravessar e regaram-na com as pedras de ambos os lados. Os recrutas da segurança tentaram abrir fogo mais duas vezes, mas os protestantes ainda remanesceram. Na extremidade, os policias recuados e os militares foram feridos com pedras, janelas de seus carros foram quebrados.
Às 9 da noite, o major de Nazran, A. Tsetchoev, chegou ao local. Pediu que as pessoas fossem para casa, mas em vão. À noite cerca de 250 pessoas permaneceram no local.
No dia seguinte, na madrugada de 20 de setembro, os parentes receberam um telefonema dos primos sequestrados. Os jovens “foram descobertos” no departamento da polícia do distrito Shatoy da Chechênia. E de manhã os primos Aushev retornaram para casa. Magomed Aushev já foi preso antes deste incidente pelas forças de segurança (FSB), em junho de 2007, após uma operação militar em Sukhakhi, onde um residente local R.Kh. Aushev foi assassinado (http://www.memo.ru/2007/06/21/2106072.html). Magomed foi detido ilegalmente, mas liberado no mesmo dia. Ele foi espancado e torturado numa das delegacias da FSB na Ossétia do Norte. Os agentes da FSB sob a ameaça do assassinato tentaram forçar Aushev a cooperar com eles (ver detalhes em http://www.memo.ru/2007/07/02/0207071.html). Porém, ao ser liberto, Aushev apelou às organizações de direitos humanos e à imprensa fornecendo detalhes de seu aprisionamento, testemunhando durante uma reunião com o Ombudsman da Alemanha Gunter Nooke, divulgando o número de telefone que lhe foi dado por agentes da segurança.
De acordo com os primos liberados seus sequestradores falavam russo e checheno, alguns introduziam palavras ossetas em sua conversa. Depois do seqüestro, os Aushev foram levados para um lugar desconhecido onde foram espancados. Seus passaportes e objetos pessoais foram queimados.
Os irmãos foram torturados com eletricidade. Os sequestradores disseram que fizeram a represália por causa da denúncia sobre a prisão em junho e da divulgação do número telefônico.
Na noite de 20 de setembro, os Aushev foram avisados que seriam executados. Colocaram-nos no carro e os levaram embora. Um dos seqüestradores recebeu um telefonema no caminho, e após isto os primos foram soltos perto de distrito de Shatoy na Chechênia. No mesmo dia o avô de ambos os primos reconheceu seus netos e agradeceu todos os manifestantes pela ajuda. Os protestantes desbloquearam a estrada e retornaram para as casas.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Em 14 de agosto a polícia russa prendeu Andrei Kalyonov e Denis Zeleniuk, ambos da Liga Anarquista de São Petersburgo. Eles estavam se dirigindo para o Congresso da Associação dos Movimentos Anarquistas em Yaroslavl, seção russa da Internacional de Federações Anarquistas, a IFA. Faziam uma viagem de poucos gastos em trens locais e estavam perto da cidade de Malaya Vishera, quando foram cercados por policiais e detidos. Khasan Didigov, um checheno que mora em Novgorod, também foi preso separadamente.
As convicções anarquistas não propõem manifestações violentas contra o povo inocente. A propósito, em 13 de agosto de 2007, Andrey Kalyonov e Denis Zeleniyuk, estavam em São Petersburgo e este fato pode ser confirmado por algumas testemunhas. Nossos companheiros se encontravam na comarca de Malaya Vishera porque iam a cidade de Yaroslavl, para participar no Congresso das Associações dos Movimentos Anarquistas.
Qualificamos esta detenção como um ato ordinário de agressão da parte do regime autoritário do Estado. Os policias efetuaram uma revista no apartamento de Andrey Kalyonov violando sua própria lei. Eles forçaram a porta e usavam os policias municipais como testemunhas desta revista, ainda que os vizinhos de Andrey estavam dispostos a fazer isto.
Colocamos sobre o Serviço Federal de Segurança (FSB, ex-KGB) e
Ministério dos Assuntos Interiores, toda a responsabilidade pela provocação
contra nossos companheiros. Esta explosão pode ser aproveitada só aos que
querem tumultuar a situação no país antes das eleições parlamentares e presidenciais, porque seu objetivo principal é ficar no poder na Rússia a todo custo. Esta gente não se detêm ante nada, cometerá qualquer crime, provocações e atos terroristas.
Chamamos as ações solidárias com os anarquistas detidos. Um deles,
Andrey Kalyonov, declarou-se em greve de fome.
Liberdade a nossos companheiros!
In favour Acc 30301 840 2 00001060000, St.Petersburg, Russsia Bank
VTB24(JSC) Branch7806
Swift: CB GU RUMM
Beneficiary 40817978603060007327 Варгина Екатерина Ионовна