terça-feira, 13 de novembro de 2007

Campanha de solidariedade com Irina Kodzaeva


A advogada Irina Kodzaeva de Vladikavkaz (República do Daguestão) está sendo alvo de um processo criminal pelo Tribunal da Federação Russa. Esta advogada tem se batido contra um sistema judicial que legitima a produção de falsas acusações e funciona na base de torturas e corrupção, defendendo todos os marginalizados sem olhar a nacionalidades.
Irina Kodzaeva trabalha na região de conflito entre a Rússia e a Chechênia onde os advogados se habituaram a ver os seus clientes condenados na base de processos fabricadas por investigadores que recorrem à tortura e à humilhação física e psíquica.
Agora é ela que enfrenta uma falsa acusação por se ter empenhado na defesa de um cliente e ter insistido em presenciar o seu interrogatório. Um grupo de advogados que trabalham na zona do Cáucaso Setentrional, na Chechênia e no Daguestão lançou um apelo pedindo o fim da perseguição a Irina Kodzaeva. (ler abaixo)
É importante lembrar às embaixadas e consulados da Federação Russa que Irina Kodzaeva não está sozinha. Nós conhecemos a sua história e exigimos o fim das perseguições e o respeito pelos Direitos Humanos.
Endereços de embaixadas e consulados:
Embaixada da Rússia em Portugal
Consulado da Rússia em Lisboa
Consulado Honorário da Rússia em Portugal
Embaixada da Rússia no Brasil
Consulados da Rússia no Brasil

Prezad@s companheir@s!

Em 17 de Outubro deste ano, o Tribunal da Federação Russa iniciou o processo criminal contra nossa colega, a advogada Irina Kodzaeva (que trabalha em Vladikavkaz, República do Daguestão).

Esta decisão foi antecedida dos seguintes acontecimentos.

Irina Kodzaeva trabalha na região de conflito entre a Rússia e a Tchetchénia, onde o sistema judicial legitima a produção de falsas acusações e funciona na base de torturas e corrupção.

Em 27 de Agosto um de seus clientes Nazir Muzhakhoev foi levado para interrogatório.

Kodzaeva dirigiu-se para a sala de interrogatório. Quando ela estava passando ao longo do corredor, um dos investigadores viu-a e trancou a porta onde Muzhakhoev estava sendo interrogado. A advogada ficou muito preocupada, pois muitos de seus clientes já foram torturados para assinar depoimentos falsos.

Anteriormente, Nazir Muzhakhoev havia comunicado a Irina que durante o último mês e meio tinha sido ameaçado várias vezes para confessar um crime que não cometera. Também exigiam dele recusar os serviços da advogada.

Muzhakhoev é o quarto cliente de Irina Kodzaeva que através de mentiras, chantagens e violência física estava sendo forçado a recusar seus serviços.

Cumprindo seu dever, a advogada Kodzaeva exigia entrar na sala de interrogatório para verificar que ele não estava sendo torturado. Ao perceber que seu pedido não estava sendo atendido, Kodzaeva tentou entrar na sala junto com um dos investigadores que acabara de chegar. Ela foi barrada na porta por um investigador da Procuradoria-geral da Federação Russa de nome Viktor Pereverzev. Primeiro, ele empurrou a advogada e depois bateu-lhe na cabeça com a palma da mão. A pancada desequilibrou Irina fazendo-a bater com boca na esquina da porta.

Irina foi para hospital e denunciou o acontecimento ao Ministério do Interior. Passado um mês, foi informada que sua denúncia tinha sido recusada e que o Ministério não iria abrir um processo.

Ao mesmo tempo informaram-na que o investigador Pereverzev tinha sido transferido para trabalhar numa outra cidade e que apresentara uma denúncia acusando Irina de espancamento.

Segundo as leis da Rússia, para abrir processo contra um advogado é necessária a decisão judicial de um Tribunal. Em 7 de Outubro o Tribunal de Vladikavkaz decidiu permitir a abertura de processo contra a advogada Irina Kodzaeva.

Todos nós, @s advogad@s que trabalham na Tchetchénia, na Inguchétia, no Daguestão e em todo o Cáucaso Setentrional, já vimos nossos clientes após as torturas, as humilhações físicas e psicológicas. Cada um@ de nós sabe quais são as hipóteses de defender a inocência dos nossos clientes. E como nos sentimos impotentes, quando os veredictos dos nossos tribunais sobre casos fabricados por investigadores como Preverzev e seus similares, é “CULPADO”!

Por causa de nosso silêncio os casos fabricados, as torturas, a cumplicidade entre os órgãos de investigação e de justiça se disseminam-se por toda a Rússia.

Hoje em dia, o espancamento da advogada Irina Kodzaeva e a abertura de um processo contra ela tiram-nos a última esperança de defesa perante a arbitrariedade.

A advogada Irina Kodzoeva é uma das poucas que defende os indesejáveis. È uma das poucas para quem não importa a nacionalidade. É uma das poucas que respeita a lei.

Peço a tod@s colegas advogad@s e a todas as pessoas a solidariedade e o apoio a Irina Kodzaeva. Neste momento ela precisa de apoio.

Levantem a vossa voz em defesa da advogada. Exijam o fim da perseguição a Irina Kodzoeva.

Escrevam para a Procuradoria-geral da Rússia.

Assina: Lida Iussúpova, advogada, candidata ao prémio Nobel da Paz de 2006 e 2007.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Grande protesto popular na Inguchétia: os irmãos Aushev que foram seqüestrados pela FSB retornaram para casa após um ato de desobediência civil

Em 18 de setembro moradores da república Inguchétia realizaram protesto exigindo do governo a busca de pessoas sequestradas por serviços de segurança. O protesto era uma resposta ao sequestro de primos Magomed Aushev e Magomed Aushev, moradores da vila Surkhakhi. De acordo com os parentes, em 18 de setembro os primos Aushev chegaram de trem em Grozny (capital da Chechênia) e pegaram um taxi em direção a Nazran (capital da Inguchétia). Nos arredores Grozny o táxi foi cercado por quatro carros com os homens de uniformes camuflados, que forçaram os Aushev a entrarem em seus carros.

No dia seguinte, 19 de setembro, às 3 horas da tarde, um grupo de pessoas (cerca de 450) saiu em protesto para as ruas de Nazran, e fechou a rua Chechenskaya, uma das passagens principais da cidade e a estrada de ferro. Entre os protestantes estavam os residentes de Surkhakhi, os parentes dos homens seqüestrados, e outros moradores de Inguchétia. Eles carregavam faixas que diziam: “Parem de matar pessoas inocentes!”, “Deixem nossas crianças em paz!”, “Tragam nossos filhos de volta!”. Umas dezenas de mulheres foram equipadas com varas.

Quando o ministro de assuntos internos M. Medov chegou com suas seguranças, um dos seguranças tentou agarrar a câmera video de um dos protestantes. As mulheres atacaram o segurança e avançaram acima do ministro e dos policias em torno dele, forçando-os a se retirarem rapidamente. Ao mesmo tempo os protestantes fecharam a estrada de ferro com os blocos de concreto. Este movimento incapacitou o tráfego do transporte ao longo da estrada principal do automóvel de Nazran e a estrada de ferro. A estrada de ferro foi fechada também por dúzias de carros e de minibuses “Gazel” com os residentes da vila Surkhakhi.

Os protestantes foram visitados mais tarde pelo procurador da república Yu.N. Turygin e de membros do parlamento republicano. Os protestantes estavam muito decididos dizendo que não sairiam até que devolvessem os primos Aushev. Trouxeram com eles cantis com água e as esteiras de reza, preparando-se para permanecer durante a noite. Em suas entrevistas aos jornalistas e às organizações de defesa de direitos humanos, os protestantes disseram que eram fartos das ações dos serviços de segurança, que sequestram homens jovens, os torturam e os executam. Criticaram fortemente as autoridades e o presidente Zyazikov, afirmando que não fizeram nada a fim de parar estes crimes.

As exigências dos protestantes: o retorno dos primos Aushev e de outras pessoas seqüestradas, e a punição dos culpados por estes crimes. Estas exigências foram transmitidas pela TV local.Ás 6 da tarde chegaram três carros militares e a polícia, muitos deles com os rostos cobertos com máscaras, e tentaram dispersar a manifestação. Entretanto, os protestantes responderam com as pedras. Os recrutas da segurança abriram fogo acima das cabeças dos manifestantes, que não se assustaram: foram adiante e empurraram os policiais para trás de seus veículos. Logo as pedras bateram nos carros militares, então um deles em uma velocidade grande foi em direção à multidão. Os protestantes deixaram-no atravessar e regaram-na com as pedras de ambos os lados. Os recrutas da segurança tentaram abrir fogo mais duas vezes, mas os protestantes ainda remanesceram. Na extremidade, os policias recuados e os militares foram feridos com pedras, janelas de seus carros foram quebrados.

Às 9 da noite, o major de Nazran, A. Tsetchoev, chegou ao local. Pediu que as pessoas fossem para casa, mas em vão. À noite cerca de 250 pessoas permaneceram no local.
No dia seguinte, na madrugada de 20 de setembro, os parentes receberam um telefonema dos primos sequestrados. Os jovens “foram descobertos” no departamento da polícia do distrito Shatoy da Chechênia. E de manhã os primos Aushev retornaram para casa. Magomed Aushev já foi preso antes deste incidente pelas forças de segurança (FSB), em junho de 2007, após uma operação militar em Sukhakhi, onde um residente local R.Kh. Aushev foi assassinado (http://www.memo.ru/2007/06/21/2106072.html). Magomed foi detido ilegalmente, mas liberado no mesmo dia. Ele foi espancado e torturado numa das delegacias da FSB na Ossétia do Norte. Os agentes da FSB sob a ameaça do assassinato tentaram forçar Aushev a cooperar com eles (ver detalhes em
http://www.memo.ru/2007/07/02/0207071.html). Porém, ao ser liberto, Aushev apelou às organizações de direitos humanos e à imprensa fornecendo detalhes de seu aprisionamento, testemunhando durante uma reunião com o Ombudsman da Alemanha Gunter Nooke, divulgando o número de telefone que lhe foi dado por agentes da segurança.

De acordo com os primos liberados seus sequestradores falavam russo e checheno, alguns introduziam palavras ossetas em sua conversa. Depois do seqüestro, os Aushev foram levados para um lugar desconhecido onde foram espancados. Seus passaportes e objetos pessoais foram queimados.

Os irmãos foram torturados com eletricidade. Os sequestradores disseram que fizeram a represália por causa da denúncia sobre a prisão em junho e da divulgação do número telefônico.
Na noite de 20 de setembro, os Aushev foram avisados que seriam executados. Colocaram-nos no carro e os levaram embora. Um dos seqüestradores recebeu um telefonema no caminho, e após isto os primos foram soltos perto de distrito de Shatoy na Chechênia. No mesmo dia o avô de ambos os primos reconheceu seus netos e agradeceu todos os manifestantes pela ajuda. Os protestantes desbloquearam a estrada e retornaram para as casas.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Dois anarquistas são presos na Rússia, um está em greve de fome
[O Serviço Federal de Segurança (FSB), agência russa de inteligência que sucedeu a KGB em relação a assuntos domésticos, tenta fabricar uma farsante rede de terror anarquista-tchecheno, e prende dois anarquistas.]

Em 14 de agosto a polícia russa prendeu Andrei Kalyonov e Denis Zeleniuk, ambos da Liga Anarquista de São Petersburgo. Eles estavam se dirigindo para o Congresso da Associação dos Movimentos Anarquistas em Yaroslavl,
seção russa da Internacional de Federações Anarquistas, a IFA. Faziam uma viagem de poucos gastos em trens locais e estavam perto da cidade de Malaya Vishera, quando foram cercados por policiais e detidos. Khasan Didigov, um checheno que mora em Novgorod, também foi preso separadamente.
No dia 13 de agosto de 2007, o trem Nevsky Express foi descarrilado após uma explosão que ocorreu debaixo de seus trilhos. A explosão aconteceu a poucos quilômetros da estação de Malaya Vishera.

Por todos os ângulos em que olharmos este caso, Andrei e Denis somente estavam no lugar errado e na hora errada. Aparentemente a polícia estava procurando por “pessoas suspeitas” em volta daquela área e os encontrou. Eles estavam usando um manto palestino e foram sarcásticos quando a polícia começou a questioná-los. Testemunhas que notaram “pessoas suspeitas” próximas ao trem antes da explosão ajudaram as autoridades a especularem sob algumas pistas, retrato falado dos procurados; embora eles não parecerem com os suspeitos, eles foram levados.

Veja no link a seguir que um dos anarquistas detidos não se parece em nada com os retratos falado, compare você mesmo: http://cia.bzzz.net/rosja_policja_zatrzymala_dwoch_anarchistow_bez_podstaw

Quando se revelou que eram “perigosos anarquistas” eles foram detidos. O apartamento de Andrei em São Petersburgo foi arrombado e revistado. Desde que ambos anarquistas haviam tido alguns problemas com a lei anteriormente e participaram em protestos antiguerra semanais, o Serviço Federal de Segurança está tentando achar uma ligação entre os anarquistas e os terroristas tchechenos.
Na verdade não há informações seguras – tudo que as pessoas sabem vem dos contatos pessoais com jornalistas, que por sua vez tem contatos pessoais com o Serviço Federal de Segurança.
Foi dito que eles seriam presos por pelo menos 30 dias. Isto é, presumivelmente, o tempo necessário para investigar e decidir se compele as acusações. Para tais detenções, a lei permite que isto ocorra em casos de terrorismo.
Nós iremos tentar obter mais informações, mas tudo está sendo mantido em segredo. Se eles não forem soltos logo, nós pediremos para que todos façam manifestações de solidariedade ou enviem mensagens.

Comunicado da Iniciativas Anarquistas de São Petersburgo em 22 de agosto de 2007
Nós, membros da Iniciativas Anarquistas de São Petersburgo, rechaçamos categoricamente todas as acusações que se referem aos nossos companheiros Andrey Kalyonov e Denis Zeleniyuk, e declaramos sua completa não participação na explosão do trem Nevsky Express.

As convicções anarquistas não propõem manifestações violentas contra o povo inocente. A propósito, em 13 de agosto de 2007, Andrey Kalyonov e Denis Zeleniyuk, estavam em São Petersburgo e este fato pode ser confirmado por algumas testemunhas. Nossos companheiros se encontravam na comarca de Malaya Vishera porque iam a cidade de Yaroslavl, para participar no Congresso das Associações dos Movimentos Anarquistas.

Qualificamos esta detenção como um ato ordinário de agressão da parte do regime autoritário do Estado. Os policias efetuaram uma revista no apartamento de Andrey Kalyonov violando sua própria lei. Eles forçaram a porta e usavam os policias municipais como testemunhas desta revista, ainda que os vizinhos de Andrey estavam dispostos a fazer isto.
O auto de registro não foi apresentado a mãe de nosso companheiro, por isto todos as "provas" que foram encontradas no apartamento não podem ser legais, porque os policias atuaram em ambiente de arbitrariedade e poderiam colocar no lugar da prova tudo o que quisessem.

Colocamos sobre o Serviço Federal de Segurança (FSB, ex-KGB) e
Ministério dos Assuntos Interiores, toda a responsabilidade pela provocação
contra nossos companheiros. Esta explosão pode ser aproveitada só aos que
querem tumultuar a situação no país antes das eleições parlamentares e presidenciais, porque seu objetivo principal é ficar no poder na Rússia a todo custo. Esta gente não se detêm ante nada, cometerá qualquer crime, provocações e atos terroristas.

Chamamos as ações solidárias com os anarquistas detidos. Um deles,
Andrey Kalyonov, declarou-se em greve de fome.

Liberdade a nossos companheiros!
Alguma notícias atuais de São Petersburgo
Andrey Kalyonov já está a 10 dias em greve de fome. Há informações que estão tentando forçá-lo a se alimentar.
Tanto Andrey como Denis estão agora numa cadeia em Novgorod. O endereço é: Bolshaya Peterburgskaya, fone 7 25A (8162) 984900.
Ambos anarquistas agora têm advogados que representam seus interesses. É necessário levantar cerca de 3 mil euros para cobrir as despesas legais.
Um grupo de anarquistas preocupados com o caso de Andrey e Denis decidiram criar a Cruz Negra Anarquista de São Petersburgo.
Neste último domingo, 26 agosto, na tradicional concentração do Comitê Anti-Guerra no centro de São Petersburgo, aconteceu um piquete de informação sobre o caso e pela liberação dos anarquistas detidos.
Conta de apoio aos anarquistas
Bank VTV24 (JSC)
In favour Acc 30301 840 2 00001060000, St.Petersburg, Russsia Bank
VTB24(JSC) Branch7806
Swift: CB GU RUMM
Beneficiary 40817978603060007327 Варгина Екатерина Ионовна
Tradução: Marcelo Yokoi e Juvei

quarta-feira, 2 de maio de 2007

manifestação de 1 de maio em Moscou. Bloco anarquista.

Paz aos povos. Guerra aos governos.


Paz ao mundo.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Manifestação 7 de abril em Moscou


7 de abril em Moscou aconteceu uma manifestação de protesto contra a guerra na Chechênia.
O dia foi escolhido para lembrar três trágicos acontecimentos relacionados a esta data.

Em 7 de abril de 1995 os moradores de vila Samachki na Chechênia foram massacrados pelo exército da Federação Russa. Foi primeira operação de limpamento que causou a morte de 103 moradores. Até hoje ninguém foi julgado pelo crime.
Fotos e texto em russo:
http://voinenet.ru/index.php?aid=5648
Texto em inglês sobre o limpamento em Samachki:
http://www.memo.ru/hr/hotpoints/chechen/samashki/engl/

7 de abril faz meio ano desde que Anna Politkóvskaia, jornalista russa que denunciava a guerra na Chechênia, foi assassinada.

7 de abril é o aniversário de Mikhail Trepáchkin, preso político. Este homem foi da FSB, polícia russa, e participou das investigações de explosões dos prédios residenciais em Moscou, Volgodonsk e Buinaisk em 1999. Das explosões foram acusados os chechenos. As explosões serviram de pretexto para o começo da segunda invasão do exército da Federação Russa na Chechênia. As explosões possibilitaram a eleição de Pútin para a presidência.
Trepáchkin foi preso em 2003 quando pretendia divulgar as informações que revelavam a participação do governo da Rússia e da FSB nas explosões.
Participaram do protesto mais de 500 pessoas!!!!!

quarta-feira, 21 de março de 2007

Notas sobre as atividades de denúncia da guerra na Tchetchênia em Portugal e Espanha


Entre os dias 15 de fevereiro e 03 de março foram realizadas uma série de atividades de denúncia da guerra na Tchetchênia em Portugal e Espanha: conversas, debates, exibição de filmes e fotos relacionados a um dos conflitos mais intensos e silenciados na atualidade. Enquanto a invasão do Iraque e o genocídio de seu povo é televisionado e noticiado para o mundo, a guerra na Tchetchênia escapa aos documentaristas e aos jornalistas – mesmo porque as estratégias de terrorismo de Estado em curso na Rússia impossibilitam os poucos trabalhos e as poucas vozes dissonantes possíveis neste momento.

Dessa maneira procuramos alguns centros de cultura social para compartilhar as informações sobre a guerra na Tchetchênia – informações sintetizadas na publicação “Terrorismo de Estado na Rússia: a guerra na Tchetchênia nos descaminhos da indústria da violência”, organizada a partir da Ação Literária pela Autodeterminação dos Povos, e que resultou de longas pesquisas, ações e vivências na Rússia com movimentos anti-militaristas e ativistas ligados à defesa dos direitos humanos na Tchetchênia.

Tanto em Sevilha e Málaga (Espanha), como nas cidades do Porto, Aljustrel e Lisboa (Portugal), encontramos movimentos e coletivos que nos receberam com comovente solidariedade – e que demonstraram a viabilidade prática e cotidiana dos princípios de autoorganização, ação direta e luta anti-capitalista na ocasião dos encontros, nos debates e na hospitalidade.

Os frutos desses encontros não colheremos neste momento, até porque o tema da guerra na Tchetchênia foi abordado sempre de maneira ampla. Procuramos estimular outras temáticas, trocar materiais e publicações diversas, dinamizar os espaços de luta social e semear futuras ações e intervenções. Assim, agradecemos a todos pelo auxílio e pela possibilidade de realização destas atividades, e esperamos até o mês de agosto realizar outras intervenções que possam celebrar a vida e a resistência nas terras do norte.

Agradecimentos especiais: Ana (Sevilha); Centro Social Ocupado e Autogestionado Casas Viejas; Carlos (Málaga); Centro Social em Málaga; Samuel, Paula, Miriam e David (Aljustrel); Centro de Cultura Anarquista Gonçalves Correia; Cristina e tod@s de Casas Vivas (Porto); José Maria e
tod@s da BOESG (Lisboa).

quarta-feira, 14 de março de 2007

Imperialismo russo e a guerra na Chechênia: os descaminhos da indústria da violência


Os povos das montanhas do Cáucaso Setentrional – chechenos, inguches, ossetas, kabardinos, balkaros, karatchai, cherkesse e outros – sempre representaram entraves para as tentativas imperialistas euro-asiáticas: resistiram aos impérios tártaro-mongol, turco-otomano, russo e soviético. A geografia auxilia nas estratégias de resistência. A região montanhosa dificulta o acesso para as tropas dos invasores, enquanto as formas seculares de auto-subsistência das comunidades tradicionais colaboram para a sobrevivência. Pastores nômades e agricultores, estes povos organizavam-se através de conselhos das comunidades. Foram enquadrados como bárbaros e “atrasados” não só pelo Império Russo que tentou dominá-los durante longa e sangrenta Guerra do Cáucaso (1817-1864), mas também pelos dirigentes da União Soviética que se opuseram à criação de uma República Autônoma dos Montanheses, logo após a revolução de 1917.
Com a desintegração da URSS, a Chechênia novamente proclama a independência. Mas o poder imperial somente trocou de nome porque, em 1994, as tropas russas invadem a Chechênia. Começa a guerra, que dura até hoje, com um saldo de 100.000 mortos e feridos e fazendo cerca de 500.000 refugiados.


Comunidades tradicionais na Tchetchênia

A estrutura social das comunidades tradicionais na região da Chechênia e do Cáucaso Setentrional é formada por teipes. As teipes podem ser compostas por diversas famílias e, além disso, aceitam outros agregados em sua composição social, provindos de outras regiões.
As teipes são constituídas por uma vila ou por um conjunto de vilas. Todas as questões cotidianas referentes aos seus habitantes são decididas nos conselhos, compostos pelos anciãos das teipes e, em alguns casos específicos, por outros representantes da comunidade. O Conselho dos conselhos legisla sobre questões que envolvem o coletivo das teipes. Forma-se, ainda, o Conselho Maior, congregando todos os povos das montanhas.
A organização horizontal dos povos das montanhas se contrapunha às tentativas de estabelecimento de um Estado ou outras formas de hierarquização institucional. No caso de guerra, escolhe-se um líder, a quem todos os habitantes juram lealdade militar. A terra, as águas e os bosques pertencem aos habitantes das vilas. As tarefas de subsistência são realizadas pela própria comunidade, baseadas essencialmente na plantação de batata, milho e trigo, além das atividades pastoris. Pelas torres de pedra, a segurança da comunidade se faz através de atenta observação do território.

O Estado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS): militarização, repressão e russificação

Após a criação da URSS, o processo de russificação e militarização no continente foi abrupto e violento. Abrupto por interromper e subjugar povos e comunidades que, por séculos, desenvolviam suas diversas formas de auto-governos. Em poucos anos, esse exercício de autonomia social foi substituído pela heteronomia estatal soviética (tal processo não fora exclusividade das ações do PC Soviético: em outros continentes, a formação e o desenvolvimento do Estado-nação caracterizou-se, essencialmente, pela usurpação das habilidades de auto-governo de comunidades tradicionais). Violento porque tais comunidades, descentralizadas e espalhadas pelo planeta, experimentaram a força dos modernos mecanismos de repressão militar combinados com a força de persuasão dos modernos mecanismos de propaganda e marketing. A sobrevivência do modo de vida comunitário autônomo fora encurralado. Assim, para compreendermos os conflitos atuais na Rússia provenientes da desintegração da URSS – como a guerra na Chechênia – percebemos que o processo de russificação, militarização e repressão constituiu a base das violações dos direitos humanos cometidos na época do governo imperialista da URSS.
A dominação pelo Estado das atividades comunitárias essenciais ao auto-governo social, tradicionalmente exercidas pela própria comunidade e núcleos familiares, se materializou através do surgimento de especialistas: estes passaram a apontar a melhor maneira para administrar a sociedade, gerir a economia, educar, remediar pequenas enfermidades, fazer sexo, lavar roupas, praticar esportes, parir crianças e enterrar os mortos. Indicam também a música da moda, explicam os motivos das grandes guerras e das catástrofes humanas, enfim, retiram de nós próprios as habilidades humanas de agir e emitir opiniões sobre nossas vidas. Aos especialistas do Estado é repassada a incumbência de gestão social. E a especialização da gestão social, por sua vez, nada mais é do que a radicalização da divisão do trabalho, processo capitalista iniciado com a Revolução Industrial, na Inglaterra, e globalizado através das grandes empresas transnacionais, na atualidade.
No caso do Estado soviético, a divisão do trabalho configurou-se na formação de uma classe social de gestores (dirigentes), empenhados em submeter a classe trabalhadora de camponeses e operários à nova ordem dita comunista. A operacionalização e implementação social dos mecanismos de lealdade aos dirigentes foram criados logo a partir das primeiras medidas de Lenin, principalmente na concepção da vetchka (ВЧК – Comissão Excepcional Superior, futura KGB) – os administradores, policiais e funcionários do Partido cuidavam para que toda e qualquer deslealdade significasse ato contra-revolucionário. No que se refere ao papel dos professores, estes já contavam inicialmente com amplo apoio do aparato estatal para universalizar o ensino obrigatório do idioma russo em todas as regiões da União Soviética. A nova ordem bolchevique procurava uniformizar, disciplinar e controlar a totalidade de centenas de povos que habitavam o extenso continente euro-asiático.
Os conflitos decorrentes desse processo, acentuados pela morte de milhões de pessoas com as repressões stalinistas (como a deportação de tchetchenos ordenada em 1944), são a origem das recentes guerras travadas entre o governo russo e os povos de ex-repúblicas soviéticas em torno da questão da autonomia política.


Refugiados

A situação de vida insustentável nas grandes cidades leva milhares de pessoas a fugir para as áreas rurais ou para os campos de refugiados, nas repúblicas vizinhas. Estas alternativas não amenizam os problemas, pois as vilas rurais são constantemente alvo das operações de limpamentos e bombardeios generalizados pelas tropas russas, enquanto a precariedade e a instabilidade da vida nos campos de refugiados não possibilita qualquer esperança para @s chechen@s. Alguns arriscam um novo destino nos grandes centros urbanos da Rússia – como Moscou ou São Petersburgo – encontrando xenofobia, preconceito e repressão da polícia: são eternos suspeitos de terrorismo.

Política do medo cotidiano e a dinamização da indústria da violência

Mas a política de medo cotidiano não é novidade para a população russa, que já enfrentara outrora a paranóia do poder repressivo stalinista, as deportações e assassinatos em massa, a cultura de delatação de inocentes instaurada pelo PC soviético. A diferença é a mudança do alvo desta política de medo cotidiano. Se antes os agentes e espiões do livre mercado capitalista eram os inimigos, hoje as minorias étnicas parecem ser as responsáveis por toda a pobreza e falta de perspectiva na sociedade contemporânea russa: é necessário vigiá-las, julgá-las, caracterizá-las como potenciais suspeitos. Nesse sentido, a desigualdade social é camuflada pela diferença étnica.
Implementada globalmente em nosso planeta após os atentados políticos em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, a política de medo cotidiano tem dinamizado diversos segmentos econômicos ligados à indústria da violência. O fluxo de movimentação financeira proveniente da ampla cadeia produtiva desenvolvida através dessa indústria – produção de armamentos, serviços de “defesa” e segurança, soldados mercenários, financiamento de redes e atentados terroristas, diversificada produção cinematográfica e midiática, etc – representa o mais fundamental segmento da economia capitalista na atualidade. As vantagens e promoções de produtos militares oferecidos pela Federação Russa atraem um amplo e diversificado leque de consumidores – desde o Brasil (negociações para a aquisição de caça-aviões Sukhoi), ou mesmo o governo venezuelano de Hugo Chavez (instalação da primeira fábrica de fuzis Kalachnikov na América Latina), até o Estado de Israel. Dessa maneira, a guerra na Tchetchênia e suas implicações nas recentes formas de vigilância e controle da sociedade russa têm dinamizado os segmentos econômicos da indústria da violência naquele continente e, até mesmo, na América do Sul. E assim movimenta-se toda a cadeia produtiva da guerra.