sexta-feira, 29 de abril de 2011

Como surge "Chechênia" - Colonização do Cáucaso pelo império russo no séc. XIX

“Chechenos” é o nome atribuído a uma parte de habitantes do Cáucaso Setentrional pelos russos e provém do nome de uma das primeiras aldeias que enfrentaram o exército imperial durante a colonização do Cáucaso, Chechen-Aul.
Os chechenos e os inguches se autodenominam vainakhi, o que significa “nosso povo”, ou nokhtchi.
A colonização do Cáucaso pelo império russo, foi e continua sendo nomeada em manuais de história da Rússia de “pacificação” de populações bárbaras. Um breve histórico desta “pacificação” fala por si só.
Não há números exatos de mortos durante a guerra colonial no Cáucaso (1816-1864), mas levando em consideração as práticas usadas pelos generais do exército imperial, supõe-se que os habitantes da região do Cáucaso setentrional foram dizimados. Estas práticas incluíam a queima de aldeamentos inteiros, juntamente com seus moradores, a queima de colheitas, sujeitando a população à fome, e o desmatamento de grandes áreas usadas para a caça e para a preparação de estoques de lenha para os invernos rigorosos.
Este primeiro genocídio foi denunciado amplamente pelos sobreviventes das populações exterminadas, que fugiram para a Turquia ou outros países, e também por algumas figuras importantes da Rússia, como o escritor Liev Tolstoi.
Uma das conseqüências mais notórias do processo colonizatório foi a destruição de uma estrutura social existente entre os vainakhi, que se distinguiam de outros habitantes da região pela forma de organização social, onde, não possuindo nem Estado, nem governo central, as decisões sobre todas as questões importantes para a comunidade de moradores eram tomadas coletivamente, e o órgão mais respeitado nestas decisões era representado pelo conselho de anciões. Outra característica importante era a propriedade coletiva sobre a terra, os bosques e as águas. Cada vila ou aldeia, que geralmente agregava uma grande família, formava seu conselho; o conjunto de conselhos formava, por sua vez, um conselho maior, e somente no caso de uma guerra, escolhia-se um líder (como aconteceu durante a resistência à colonização no século XIX).
Como conseqüência da colonização, uma forma de organização social (a gestão das comunidades por meio de conselhos) começou a ser substituída por outra (chariá islâmica), ou seja, um modo de vida existente durante vários séculos foi rapidamente destruído e substituído por um outro, que trouxe consigo a estratificação social, a urbanização e o surgimento da noção de etnicidade, levando mais tarde à formação de um Estado-nação. Diferentemente de outros povos do Cáucaso que foram exterminados durante a colonização, chechenos sobreviveram e resistiram ao exército imperial bravamente, entrando, a partir daquele momento, no imaginário da população da Rússia como “inimigos ferozes” e “montanheses indomáveis”. Esta imagem fora propagada através de ampla produção artística sobre o assunto no século XIX. Os livros escritos pelos historiadores na Rússia apresentavam o processo de colonização como uma guerra justa e como um processo civilizatório de populações bárbaras, carentes de cultura, de higiene, de racionalidade, etc.: reafirmando um discurso comum a todas as potências colonizadoras e, ao mesmo tempo, formando a percepção negativa e deficiente dos povos colonizados.
Com o extermínio de grande parcela da população, longo período de enfrentamento armado e consequente desestruturação social, e, também, devido a onda migratória de populações do Cáucaso setentrional para o império otomano, a religiosidade anímica e o direito adat (forma de solução de conflitos operante entre os vainakhi, embasada em princípios pré-definidos pelos anciões) foram gradualmente substituídos pelo direito islâmico (chariá) e grande parte de habitantes daquela região se tornou muçulmana. Dentre várias orientações filosóficas e políticas existentes no islamismo a preferência, inicialmente, foi dada ao sufismo e ao.
O Cáucaso Setentrional passou a ser dividido em unidades administrativas dentro do império russo associadas à “nacionalidade” ou à “etnia” de seus moradores. Surgem, assim, a partir do século XIX, os chechenos, os inguches, os karatchai, os balkary, os tcherkessy e os kabarda, identidades, hoje em dia, reivindicadas pelos próprios moradores da região e relacionadas às exigências de independência política.

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